27 novembro 2009

O que eu menos queria era espaço!

(trilha sonora - Kate Havnevik - Grace )

Dando espaço para meus pais? Onde Clarice estava com a cabeça?
Deveria parar de ler esse diário. Não deveria ter mexido em seu quarto. Ela não gostaria disso.

Ela queria escrever um livro, queria fazer uma tatuagem. Todas as coisas dessa lista-que parte ficou em sua mente- ela conseguiu fazer. No dia em que me pediu para saltar de pára-quedas... Tudo faz sentido agora. Ela estava cumprindo promessas que fez a si mesma.

Minha filha tinha uma parte de mim. Ela era uma parte de mim.

Nunca entendi minha filha. Nunca me entendi. A homenagem que fiz dando a ela o nome de minha escritora favorita caiu como uma luva. Clarice era complexa e enigmática como Clarice Lispector.

Mas a morte? Ela se foi como pássaros que migram no inverno. Partiu como se sua existência, seu propósito já tivesse acabado aqui.

Tantas coisas...

Porque minha filha se foi? Porque descobrimos tarde demais sua doença? Porque aconteceu tudo isso comigo? Porque estou aqui nessa casa de campo que só me traz lembranças de sua ida?

Ela deixou um diário. Lembranças escritas. Eu nem fazia idéia de que minha filha gostava de escrever, de relatar tudo. Gosto, perfume, amor, vazio, batimentos cardíacos acelerados.

Estou lendo fragmentos de seu diário, como se as palavras e sentimentos ali relatados pudessem trazê-la de volta a vida.

- Entre no quarto e brigue comigo.Brigue por eu estar mexendo em sua caixa de lembraças felizes! Apenas diga algo Clarice! Apenas volte!

Continuarei lendo o diário de Clarice em voz alta para que possam ouvir.Continuarei descobrindo e conhecendo partes não reveladas de minha filha.

Hoje o único medo que tenho é do que farei quando o diário acabar. O que farei quando chegar o final da obra de minha escritora, e além de tudo, filha ausente.