21 novembro 2009

Parte III - Refúgio feliz!

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Ao entrar naquela casa, todas as lembranças vieram ao meu encontro. Tons e perfumes. Um misto de emoções que não sei como explicar. Notei que minhas lembranças não faziam juízo aquele lugar. Era como se a perfeição não pudesse ser captada pelos olhos.

Comparada com a cidade, ali era o paraíso sim. Silêncio. Sol. Verde. Ar puro.
Era difícil pra mim similar tudo ao mesmo tempo. Sensações que fazem bem a qualquer ser humano, mas vinte vezes mais forte a mim.
Fui para meu quarto e troquei de roupa. A segunda coisa que fiz ao chegar ao quarto foi colocar o notebook para carregar. Mesmo estando em meu refugio feliz, era preciso estar em contado com as pessoas que não pertenciam a ele.

Minha mãe estava sentada na varanda conversando com meu avô. E meu pai mesmo tentando estar ali, estava mesmo preocupado com o sinal do celular. Típico não?
Dei um beijo em meu avô e chamei Kurt para dar uma volta. Nosso cão não conseguia ser domesticado. E eu nem queria isso de fato. Era tudo inesperado com Kurt.

Corri com ele para a beira do lago. Brinquei, corri, joguei bola e depois me fiz de morta para ver se ele entendia que era hora de parar. Deitada naquela grama pensando em muita coisa. Coisas que não conseguiria pensar fora dali. Eu e um cão feliz deitado ao meu lado rosnando para a grama, como se o efeito do vento fosse um inimigo.

Fiquei ali a tarde toda. Dando espaço para meus pais. Dando espaço para mim. Apenas... Respirando.

16 novembro 2009

Parte II

Estou aqui contando a história e ainda não me apresentei. Meu nome é Clarice.
Minha mãe sempre gostou de ler, e uma de suas escritoras favoritas era Clarice Lispector. Meu pai sempre gostou do clássico, da literatura e concordou com esse nome.
Meu pai se chama John e minha adorável mãe se chama Valerie.
Os dois compraram a casa antes de eu nascer. Sempre planejavam tudo, até meu nascimento. Minha mãe com a mania louca de fazer lista para tudo e meu pai louco por viagem. Tudo se encaixava.
Não entendia aquela crise toda no casamento. Falta de tempo? Falta de amor? O amor pode acabar do nada?
Eu não sei.
Pensava tudo isso dentro daquele carro. Lembrando de todos os verões e fazendo perguntas a mim mesma sobre tudo. Sobre o que faria primeiro. Se iria correr para o lago, se iria abraçar meu amigo cão, tantas coisas.
No meio da viagem fomos bombardeados pelo silêncio, a falta de assunto. Já havíamos conversado sobre minhas notas, sobre as obras de arte de minha mãe e sobre os amigos de escritório do meu pai. Até sobre nosso cão que morava na casa do lago - ele ficava lá porque nos mudamos para um apartamento que não permitia animais, ainda mais um labrador louco igual Kurt- com os empregados e com meu avô Billy.
Eu adorava o Kurt, ele era a bagunça permitida. O cão doido que todo pai calmo e amante do silencio teme.
Coloquei o fone no ouvido para fugir das músicas clássicas de meu pai no carro. Eu ouvia sempre música clássica. Meu pai uma vez ouviu que música clássica faz bem para mente da criança. Ele só esqueceu uma parte. Eu já não era mais criança, e não agüentava ouvir por muito tempo.
Eu estava feliz. Não precisaria ler os livros de etiqueta e nem " Como alcançar o sucesso" que meus tios haviam me dado e sempre perguntavam em que parte eu estava. Eu iria me divertir. Fugir da rotina, começar uma nova vida. Eu havia feito até mesmo uma lista. Querem ler?

O QUE TENHO QUE FAZER ANTES DE COMPLETAR 18 ANOS:

* fazer uma tatuagem
* pintar o cabelo
* ir às compras sozinha
* escrever um livro
* viajar para o Canadá
* saltar de pára-quedas
* aprender a tocar violão
* completar minha coleção de corujas em miniatura

Ah, havia mais coisa, mas não vou contar todas.Aquele verão iria ser um marco. O antes de Clarice. E pensando bem até foi.
Enquanto viajava em meus pensamentos, meu pai descia para abrir a porteira de nossa adorável casa. Eu, com a trilha sonora mais pesada de meu mp3 olhava a frente de nossa casa. Foi ali que descobri que rock combinava com tudo. Até com campo e borboleta. rs

15 novembro 2009

"Quando a morte conta uma história, você deve parar para ler"

Parte 1

    Eu sempre quis morrer para ver quem choraria, queria iria a meu velório. Curiosidade estranha para uma garota de 15 anos.
    Era verão. E como todo verão estávamos indo para nossa casa no campo. Eu adorava ir para lá, não ficava triste por ser tão longe da cidade. Não havia lugar para tristeza em nossa casa no campo. Não em nosso paraíso particular.
   Meus pais estavam com o casamento em crise e queriam ver se conseguiriam resgatar o amor longe da bagunça que era nossas vidas na cidade. Eu estava tentando ajudar os dois, mas como uma garota de 15 anos pode ajudar os pais a terem um casamento feliz novamente?
   Entramos no carro e meu pai foi falando o plano de viagem enquanto minha mãe checava se todas as coisas que estavam em sua lista estavam no porta-malas. Lembro-me que não demorava mais do que duas horas para chegarmos lá, e que todo o tempo que passamos naquele carro lembrando  verões anteriores serviria para colocar na caixa de lembranças felizes da família. Estava tudo muito estranho, como se meu fim tivesse sido planejado de alguma forma.
   Nossa casa era enorme. Grande demais para três pessoas e um cachorro. Ela era branca com janelas de vidro que mais pareciam paredes de tão grandes. Lembro-me do primeiro verão que passamos na casa. Nós que pintamos a sala, não ficou linda a parede, mas tínhamos orgulho de termos feito alguma coisa na casa. Um toque nosso!
   Pintamos a parede que dava de frente para o lago de  azul-inverno. Ficou linda e sempre quando íamos ouvir música deitávamos perto da parede. A ausência de conversa, a melodia das clássicas canções de meu pai no ar, era o auge da paz.
   Mas naquele verão algo  me dizia que meus planos de vida, meus sonhos iriam se realizar e tudo iria acabar bem. Pelo menos pra mim.