25 julho 2010

Eu não vou mais o tempo vem

'


O enterro foi difícil.Complicado. Ela não chorava, não sentia. Apenas andava.O nublado cinzento do dia embalou o que estava em sua direção.E com o pacote uma carta, uma pequena grande carta.

- Por favor não leia, rasgue. Mudei de idéia.Era o que estava do lado de fora do envelope azul. Então ela pegou a caixa e deixou o envelope cair no chão gelado de madeira.
Abriu a porta deixou a caixa do lado da lareira e voltou para pegar o pedaço de papel. O peso do envelope era com certeza maior que da caixa. Era o peso das palavras gravadas nele, era o mundo das palavras.

Ela leu o aviso mas não rasgou, não leu o conteúdo, guardou.Abriu a caixa e nela estava outra caixa,ainda menor e com um cd.

Abriu a outra caixa e nela estava uma aliança,um chaveiro, cartas com sua letra,fitas e cartões de hospital,fotos e bilhetes rasgados colados em um quadro verde minúsculo.
Então confusa, ela abriu a carta. Ela precisava entender.

Porque me mandou essas coisas? Porque?

- Eu não morri, não fui embora. Não deixei você...Eu não queria, mas não podia. A vida me obrigou a sair de perto. Você me viu hoje? Tocou minhas mãos geladas? Acho que ficaria ruim demais para você, mas ficou para mim também. Eu que fui, você ficou e agora? Como vou cuidar de você? Como vou salvar você de si mesma?
Eu não sei.Nem a onde estou agora eu sei, mas sei que vou te esperar aqui.
Você me visitou e eu estava dormindo. agora você entende porque eu não queria dormir? Perdi seu olhar... Mais uma vez. Não era para você abrir, eu avisei. Eu conheço você, sei que você abriu, seu que está lendo isso. Que droga!
Me perdoe por partir, mas quando você for mais velha vai entender.

***
Ela fechou a carta, quis rasgar o peito, quis correr, quis morrer. Mas não fez nada disso. Deitou seu corpo quente no frio chão ao lado da lareira e chorou, o choro mais penetrante e triste que já ouvi. Um choro mudo, sem som algum... Ela ficou lá agarrada com a carta e as fotos.Sentindo sua pulsação, chorando e assim com a boca seca, com a garganta severamente dolorosa ela esperou.

Não entendi o que aquilo significou... Ao pegar as fotos ela as agarrou e começou a sorrir. Não entendi!

Os seres humanos se prendem ao concreto nessas horas porque? Ela quando envelheceu entendeu tudo, mas eu, eu continuo esperando explicação.


Figuras da escuridão,memórias da morte-Parte III

O que tem guardado na caixa em forma de coração?

'

VocÊ!